E Jesus disse ao jovem o que deveria fazer, e a noite este veio a Ele com um vestido de linho sobre o corpo nu E ficaram juntos aquela noite pois Jesus ensinou-lhe o Mistério do Reino de Deus.
Fonte: Wikipedia
O Evangelho Secreto de Marcos é um suposto apócrifo do Novo Testamento, conhecido exclusivamente através da carta de Mar Saba, que descreve uma versão expandida do canônico Evangelho de Marcos com alguns episódios esclarecidos e escrito para uma elite já educada.
Em 1973, Morton Smith (29 de maio de 1915 - 11 de julho de 1991), professor de História Antiga na Universidade de Colúmbia, alegou ter encontrado uma carta anteriormente desconhecida de Clemente de Alexandria no Mosteiro de Mar Saba, na Cisjordânia, transcrita nas páginas finas de uma edição impressa do século XVII das obras de Inácio de Antioquia. O manuscrito original foi posteriormente transferido para outro mosteiro e acredita-se que tenha se perdido. Toda a pesquisa posterior se baseia em fotos e cópias, inclusive as feitas pelo próprio Smith.
O anúncio da descoberta da carta causou sensação na época, mas logo vieram as acusações de falsificação e erro de interpretação. Estudos posteriores, inclusive uma análise grafológica das fotografias de alta qualidade do documento, publicados pela primeira vez em 2000, revelaram mais evidências de uma possível falsificação, levando acadêmicos como Craig A. Evans e Emanuel Tov a concluíram tratar-se de uma fraude, com Smith como principal suspeito. Porém, ao mesmo tempo que um crescente número de acadêmicos se convenceram da fraude, muitos outros continuaram a defender a carta de Mar Saba como genuína. O debate continua sobre a sua autenticidade e a do evangelho "secreto" que ela descreve .
Morton Smith
Em 1973, Morton Smith publicou
um livro sobre uma carta anteriormente desconhecida de Clemente de Alexandria . Ele afirmou
que, enquanto catalogava documentos no antigo mosteiro grego
ortodoxo de Mar Saba, no verão de 1958, ele descobriu o texto escrito à
mão nas páginas finais da edição impressa de 1646 de Isaac Vossius das
obras de Inácio de Antioquia. Ele tratava de uma carta
de Clemente a um tal Teodoro, a quem ele avisava sobre um Evangelho de Marcos
que teria sido falsificado pela seita gnóstica dos carpocracianos.
Clemente, segundo o texto, concedia que o evangelho era uma versão "mais
espiritual" de Marcos e o cita. Esta carta passou então a ser conhecida
como "Carta de Mar saba". No livro, Smith publicou uma coleção de
fotos em preto-e-branco que ele mesmo fez sobre o texto. Ele publicou também um
segundo livro, para um público mais amplo em 1974.
História
Por muitos anos acreditou-se que
apenas Smith teria visto o manuscrito. Porém, vinte e cinco anos depois, Guy G.
Stroumsa relatou que, em 1976, ele, juntamente com os falecidos professores
da Universidade Hebraica de Jerusalém David
Flusser e Shlomo Pines, o arquimandritaMeliton
e um monge de
Mar Saba mudaram o manuscrito do lugar onde Smith o havia deixado. Stroumsa
publicou seu relato ao saber que ele era o último acadêmico ocidental a ter
visto a carta. Ele, Meliton e os outros acadêmicos determinaram, na época da
mudança, que o manuscrito estaria mais seguro em Jerusalém do
que em Mar Saba. Eles então o levaram com ele e Meliton o depositou na
biblioteca do patriarcado. O grupo procurou formas de
testar a tinta utilizada, mas a única entidade na área capaz de realizar o
teste era a polícia de Jerusalém e Meliton não queria deixar o manuscrito sob a
guarda deles. Por isso, nada foi feito.
Pesquisas posteriores descobriram
mais informações sobre o manuscrito. Em 1977, o bibliotecário e sacerdote
Kallistos Dourvas removeu as duas páginas contendo o texto da carta para
fotografá-las e recatalogá-las. A recatalogação jamais ocorreu e Kallistos posteriormente
contou a Charles W. Hedrick e Nikolaus Olympiou que as páginas foram então
mantidas separadas juntamente com o livro até pelo menos 1990, quando ele se
aposentou. Algum tempo depois disso, as páginas foram novamente realocadas e as
diversas tentativas de localizá-las desde então fracassaram. Olympiou sugere
que pessoas na Biblioteca Patriarcal podem estar escondendo-as por causa uso
sensacionalista que Morton Smith teria feito delas. O padre Kallistos entregou
suas fotos coloridas do manuscrito a Hedrick e Olympiou, que as publicaram no
livro The Other R em
2000.
Até 2012, o paradeiro do
manuscrito permanece desconhecido e as únicas provas de sua existência são os
dois conjuntos de fotografias, o de Smith, em preto-e-branco, e o do padre
Kallistos, colorido. A tinta e as fibras do manuscrito jamais foram testadas.
Conteúdo da Carta de Mar Sabba
Na carta de Mar Sabba, o
Evangelho Secreto de Marcos é descrito como uma segunda versão, "mais
espiritual", do Evangelho de Marcos, composto pelo próprio
evangelista. Seu objetivo seria supostamente encorajar a sabedoria (gnosis) entre os cristãos mais avançados e seria
utilizado na liturgia de Alexandria.
Fragmentos
A carta inclui dois trechos do
Evangelho Secreto. O primeiro deveria ser inserido, segundo Clemente, entre os
versículos 34 e 35 do capítulo 10 de Marcos:
“
|
E eles vieram para Betânia. E uma certa mulher cujo irmão havia
morrido estava lá. E, se aproximando, ela se prostrou perante a Jesus e
disse-lhe, 'Filho de David, tende piedade de mim'. Mas os discípulos a afastaram.
E Jesus, furioso, se afastou com ela até o jardim onde estava o túmulo e,
imediatamente, um forte grito se ouviu vindo dali. E, se aproximando, Jesus
rolou a pedra que selava a porta do túmulo. Imediatamente, indo até onde
estava o jovem, ele estendeu suas mãos e o ergueu, segurando-o pelas mãos.
Mas o jovem, olhando para ele, se enamorou e começou a insistir para que
Jesus ficasse com ele. E, saindo do túmulo, eles foram à casa do jovem, pois
ele era rico. Após seis dias, Jesus disse-lhe o que fazer e, à tarde, o jovem
foi até ele vestindo um manto de linho sobre o corpo nu. Jesus permaneceu com
ele durante aquela noite, pois Jesus ensinou-lhe o mistério do reino de
Deus. E, de lá, se levantando, ele retornou para o outro lado
do Jordão
|
.
O segundo trecho é bem curto e
deveria ser inserido, de acordo com Clemente, em Marcos 10:46:
“
|
E a irmã do jovem que Jesus amou, sua mãe e
Salomé foram lá e Jesus não os recebeu”
|
Comentário de Clemente
Ainda que Clemente tenha
endossado estas duas passagens como genuínas, ele rejeitou como uma
corrupção carpocraciana as palavras "corpo
nu".
Carta
de Clemente a Teodoro.
Análise de Morton Smith
Com base em uma análise lingüística,
Smith defendia que a carta poderia de fato ser uma genuína descoberta de uma
carta inédita de Clemente e que as duas citações remontariam à versão original
de Marcos, em aramaico, que também servira de fonte não só para o Marcos
canônico, mas também para o Evangelho de João. Ele também acreditava que
Jesus teria batizado o jovem ressuscitado num possível ato homossexual.
Finalmente, Smith também defendia o ponto de vista de que o Jesus
histórico seria um magus possuído pelo Espírito
Santo e que o libertinismo de
Jesus teria sido posteriormente reprimido por Tiago, seu irmão, e por Paulo de
Tarso.
Acolhida
Logo de início já havia sugestões
de que, ainda que o manuscrito de Mar Saba fosse de fato antigo e genuíno, ele
poderia conter material falsificado antigo ou medieval e baseado nos textos
canônicos. Também havia dúvidas se a carta seria de Clemente de Alexandria ou não, embora
diferenças de conteúdo em relação aos demais escritos de Clemente já tivessem
sido percebidas. O texto não contém, por exemplo, nenhum dos erros típicos da
tradição manuscrita. Charles Murgia (1975) concordou com as alegações de
Quesnell de que a carta seria uma falsificação moderna e acrescentou novos
argumentos.
Décadas de 70 e 80
F. F. Bruce (1974)
via a história de um jovem de Betânia como se baseando, de forma desajeitada,
na história de Lázaro do Evangelho de João. Assim,
ele vê o Evangelho Secreto como um derivado e nega que ele possa ter sido a
fonte da história de Lázaro ou evangelho paralelo independente. Raymond E. Brown (1974)
conclui que o autor do Evangelho Secreto se baseou no Evangelho de João, senão
numa cópia escrita, pelo menos de memória. Skehan (1974) apoiava este ponto de
vista, afirmando que era "inquestionável" a dependência do texto de
João. Robert M. Grant (1974) encontrou no Evangelho Secreto elementos dos
quatro evangelhos canônicos e chegou à conclusão de que ele foi escrito após o
século I. Helmut Merkel (1974) também concluiu que o Evangelho Secreto é
dependente dos quatro canônicos após ter analisado as principais frases
em grego.
Frans Neirynck (1979) defendia
que o Evangelho Secreto pressupunha a existência dos quatro canônicos. O autor
dele parece ter juntado os vários trechos dos evangelhos sinóticos onde a palavra
grega neaniskos ("jovem")
foi utilizada (Marcos 14:51; Marcos 16:5; Lucas 7:14; Mateus 19:20-22). Ele
também aponta outras similaridades.
PRESTEM ATENÇÃO NESTE COMENTÁRIO:
Ron Cameron (1982) e Helmut Koester (1990)
defenderam que o Evangelho Secreto precedia o Marcos canônico e que este era,
na realidade, uma abreviação daquele. Isto explicaria a descontinuidade na
narrativa indicada mais acima. John Dominic Crossan (1985) apoiou o
ponto de vista de Koester: "Eu considero que o Marcos canônico é
uma revisão deliberada do Marcos secreto".
Quando o historiador sueco Per Beskow estava
preparando a sua edição em inglês de Strange Tales about Jesus (1983) e lançou dúvidas sobre o
Evangelho Secreto, Morton Smith respondeu ameaçando processar a editora que
lançaria o livro na língua
inglesa, a Fortress Press, da Filadélfia,
em "um milhão de dólares", o que fez com que a editora fizesse uma
emenda no parágrafo contestado.
Década de 90, após a morte de Smith em 1991
N. T. Wright (1996)
escreveu que a maioria dos acadêmicos que aceitavam o texto como genuíno viam o
Evangelho Secreto como uma adaptação gnóstica muito posterior do Marcos
canônico. (Como sustentar essa opinião se já existe a tese de que o Marcos
canônico foi resumido do texto secreto?).
Além disso, Peter Kirby especulou
que, se a carta for genuína, Clemente pode ter se enganado em sua visão de que
o Marcos secreto seria uma versão mais longa do Marcos canônico escrita
especificamente para a elite espiritual. Ao invés disso, propôs o Marcos
secreto seria, na verdade, a versão original do Marcos canônico. Se este
cenário for verdadeiro, os trechos que Clemente alega serem adições seriam, na
verdade, partes do original editadas pelos escribas (possivelmente por causa da
percepção de homoerotismo). Uma vez que o único conhecimento que temos sobre
esse Marcos secreto deriva da Carta de Mar Saba, é atualmente impossível saber
se a visão de Clemente era acurada ou se o Marcos secreto era de fato a versão
original do Marcos canônico.
O ponto de vista de que o
Evangelho Secreto e o manuscrito de Mar Saba são falsificações modernas foi
defendido, após a morte de Smith, por Jacob Neusner, um
especialista no judaísmo antigo. Neusner fora estudante e um admirador de
Smith, mas, em 1984, eles se desentenderam seriamente após Smith ter
questionado publicamente a competência de seu antigo aluno. Neusner
posteriormente descreveu o Evangelho Secreto como "a falsificação do século” . Porém, Neusner jamais
publicou uma análise detalhada do Evangelho Secreto ou uma explicação de por
que ele acreditava que ele seria uma falsificação.
O fato de Smith ter sido, por
muitos anos, o único acadêmico a ter visto o manuscrito contribuiu muito para
as suspeitas de falsificação. Elas se dissiparam com as publicações das fotografias
coloridas em 2000 e a revelação de que Guy Stroumsa e diversos outros o viram
em 1976. Como resposta à suspeita de que Smith teria impedido outros acadêmicos
de examinaram o manuscrito, Scott G. Brown lembra
que ele não teria condições de fazê-lo. O manuscrito havia permanecido onde
Smith o havia encontrado e onde Stroumsa e os demais o encontraram dezoito anos
depois. Ele só foi desaparecer após ter sido levado para Jerusalém e separado
do livro.
Stephen C. Carlson escreveu que a
recepção entre os acadêmicos do Evangelho Secreto, nas palavras de Larry Hurtado, como:
“O Evangelho Secreto à que ela se refere
pode ser uma edição antiga de Marcos produzida no século II por algum grupo
procurando promover seus interesses esotéricos”.
|
||
Em 2001, o acadêmico Philip
Jenkins chamou atenção para um conto muito popular de James Hunter
chamado The Mystery of Mar Saba ("O
Mistério de Mar Saba"), que foi publicada pela primeira vez em 1940. Ele
apresenta algumas similaridades pouco usuais com os eventos em torno do
manuscrito de Mar Saba ocorridos após 1958. Posteriormente, Robert M. Price também
chamou atenção para este mesmo conto. Em 2007, o musicologista Peter
Jeffery também publicou um livro acusando Morton Smith de fraude argumentando
que ele teria escrito o documento de Mar Saba com o objetivo de "criar a impressão de que Jesus teria
praticado atos homossexuais". Outros ponderaram se esta acusação
não teria sido feita supondo que o próprio Smith seria homossexual, dado que
ele já tinha uma bem firmada reputação de ser cínico e muito esperto.
Em 2005, o escritor Stephen
Carlson publicou "The Gospel
Hoax: Morton Smith's Invention of Secret Mark" ("A Fraude
do Evangelho: A invenção do Evangelho Secreto de Marcos por Morton
Smith"), no qual ele detalha sua acusação de o próprio Morton seria o
autor e o escritor por trás do manuscrito de Mar Saba. Quando Carlson examinou
as fotografias de Smith, ele alegou ter percebido "um tremor de
falsificador"; Assim, de acordo com Carlson, as cartas não teriam sido
sequer escritas, mas desenhadas por uma mão trêmula que levantava a caneta
entre as letras. Carlson também alega que suas comparações com a forma típica
como Morton escrevia as letras gregas (em suas correspondências e notas
pessoais) revelam uma forma pouco usual das letras theta e lambda no texto de Mar Saba e que conferem com a
forma peculiar empregada por Morton quando as escrevia. Porém, estas alegações
de Carlson foram, por sua vez, refutadas por trabalhos acadêmicos posteriores,
especialmente por Scott G. Brown em
diversos artigos.
Em 2010, duas novas análises
grafológicas do manuscrito de Mar Saba foram realizadas por dois grafologistas
gregos a pedido da publicação Biblical Archaeology Review. O
primeiro, Venetia Anastasopoulou, um especialista forense em grafologia com experiência
em muitos casos nas cortes gregas, comparou as fotos de Mar Saba com exemplos
conhecidos da letra de mão de Morton em grego e concluiu que o texto muito
provavelmente não era de autoria dele. Porém, o segundo grafologista, Agamemnon
Tselikas, um paleógrafo, diretor da Fundação Cultural do
Banco Nacional da Grécia e também do Instituto Mediterrâneo de Pesquisa em
Paleografia, Bibliografia e História Textual, concluiu que o manuscrito era uma
falsificação do século XX de um texto do século XVIII e que, provavelmente, o
falsificador teria sido Smith ou alguém empregado por ele.
Além disso, analisando as fotos e
comparando-as com imagens do livro de Voss de 2000, Scott G. Brown sugere
que a composição química evidente da tinta torna improvável que o manuscrito
seja uma falsificação do século XX. Ele argumenta que levaria pelo menos 25
anos, possivelmente mais, para que a tinta se deteriorasse até o estado
aparente pelas fotos de Smith.
Finalmente, ainda que a tese de
falsificação seja verdadeira, permanece a dúvida se Smith foi o falsificador ou
empregou alguém para a tarefa.
Lacuna
e e
continuidade
Em Marcos 14:51-52, "um moço, coberto unicamente com um
lençol" foi preso durante a prisão de
Jesus, mas ele conseguiu escapar deixando para trás o lençol, nu.
Esta passagem parece completamente desconectada do resto da narrativa e já
foram apresentadas diversas interpretações para tentar explicá-la. Em geral, se
sugere que o jovem seria o próprio Marcos. Outros acreditam que o garoto
seria um estranho que vivia perto do jardim e
que, após ter sido acordado, correu, semi-nu, para ver o que estaria
acontecendo. W. L. Lane acredita que Marcos teria mencionado este episódio para
deixar claro que "todos (não
apenas os discípulos) fugiram, deixando Jesus sozinho sob a custódia dos
soldados".
A mesma palavra grega para
"jovem" (neaniskos) é
utilizada tanto no Evangelho Secreto como nesta passagem. Se aceitarmos a
teoria de Helmut Koester de que
o Marcos canônico seria uma revisão do Evangelho Secreto, outra explicação é
possível: o editor, na antiguidade, teria apagado um encontro anterior de Jesus
com este mesmo jovem "com um lençol" e incluído este incidente,
também envolvendo o jovem, durante a prisão de Jesus.
Há uma outra ocorrência da
palavra neaniskos em
Marcos, na figura do jovem vestido de branco no túmulo de
Jesus (Marcos 16:5). Nesta
passagem em particular, há também trechos similares em Mateus e em Lucas, mas
nenhum dos outros sinóticos faz uso da palavra:
em Mateus 28:2 aparece
um "anjo do Senhor" vestido de branco e em Lucas 24:4, "dois
homens" (em grego: andres).
Assim, é possível que todas as três ocorrências da palavra em Marcos e no
Evangelho Secreto estejam relacionadas. Já os defensores da tese da
falsificação, por outro lado, defendem que o Evangelho Secreto foi criado com
base nas duas passagens do Marcos canônico.
Evangelho Secreto de Marcos e o
Evangelho de João
A história da ressurreição do
jovem por Jesus no Evangelho Secreto tem muitas similaridades com a história
da a ressurreição de Lázarono Evangelho de
João (João 1:44), algo já notado
pelo próprio Morton Smith.
Ele tentou demonstrar que a
história da ressurreição no Evangelho Secreto não contém nenhuma das
características secundárias encontradas na história de João e que esta seria
mais desenvolvida do ponto de vista teológico. Ele concluiu que a versão do
Evangelho Secreto seria uma versão mais antiga, independente e confiável da tradição
oral.
Helmut Koester concorda com Smith
que ambas as histórias são muito similares:
“
|
Que são, de fato, a mesma história é evidente na
ênfase sobre o amor entre Jesus e o jovem que ele ressuscitou, expressado
duas vezes no trecho adicional do Evangelho Secreto. Ambas também ocorreram
em Betânia”
|
”
|
— Helmut Koester,
Ancient Christian Gospels.
|
Além disso, Koester argumenta que
a história da ressurreição no Evangelho Secreto parece ser independente da
encontrada em João 11 e que o autor do Evangelho Secreto pode ter tomado
contato com ela a partir de uma outra fonte, provavelmente alguma tradição que
circulava livremente na época sobre Jesus:
“
|
É, contudo, impossível que o Evangelho Secreto
seja dependente de João 11. Em sua versão da história, não há traços da longa
redação encontrada em João (nomes próprios, o motivo da demora na viagem de
Jesus, medidas de espaço e tempo, discursos sobre Jesus com seus discípulos,
com Marta e com Maria). Com relação à forma, o Evangelho
Secreto representa um estágio do desenvolvimento da história que
corresponderia à fonte utilizada por João. O autor evidentemente ainda tinha
acesso às tradições históricas sobre Jesus ou à alguma coleção escrita mais
antiga de histórias milagrosas”
|
”
|
— Helmut Koester,
Ancient Christian Gospels.
|
Porém, outros acadêmicos
concluíram que o Evangelho Secreto é dependente de João e não o inverso.
Raymond E. Brown acredita que é provável que ele dependa de João pelo menos
como uma lembrança. Skehan, num comentário sobre a obra de Brown, afirma que a
dependência de João é "inequívoca".
Interpretações do Evangelho Secreto
Significado batismal
Até recentemente, as opiniões
eram muito uniformes ao interpretar a ressurreição do jovem retratada no
Evangelho Secreto primordialmente como uma referência ao batismo, uma forma de
"iniciação". Esta era a opinião que o próprio Smith propôs
originalmente.
Mas, em anos recentes, um debate
se iniciou sobre este assunto. Por exemplo, Scott G. Brown (que
defende a autenticidade do Evangelho Secreto) discorda de Smith que a cena seja
uma referência batismal. Assim, ele diz "Não há menção de água e nem o relato de um batismo" e
acrescenta que "...o manto
de linho do jovem tem conotações batismais, mas o texto desencoraja qualquer
tentativa de retratar Jesus literalmente batizando-o". S. Carlson
parece concordar com Brown. A ideia de que Jesus teria praticado o batismo não
aparece nos evangelhos sinóticos, mas somente no Evangelho de João (João 3:22; João 4:1 - o
versículo seguinte afirma que não era Jesus pessoalmente quem realizava os
batismos).
De acordo com Brown, para Clemente, "o mistério do Reino de
Deus" significava principalmente "instrução teológica avançada". Estes temas também são
relevantes na discussão sobre a autenticidade do Evangelho Secreto, pois Brown
claramente implica que Smith, pessoalmente, não compreendeu claramente a
descoberta que fez.
Outras interpretações
Em 2008, uma longa
correspondência entre Smith e seu professor e amigo de longa data Gershom
Scholem foi publicada, onde ele discute o manuscrito de Mar
Saba ao longo de muitos anos. O editor do livro, Guy Stroumsa, argumenta que
Smith não poderia ter forjado o manuscrito, pois, na correspondência, ele
aparece "discutindo o
material com Scholem ao longo do tempo de uma forma que claramente demonstra um
processo de descoberta e reflexão". Estas cartas podem ser
interpretadas de forma diferente, contudo. Smith escreveu em 1948 que estaria
trabalhando nos Padres da Igreja, "especialmente Clemente de Alexandria"(p.28). Em 1955,
Smith escreveu que estaria trabalhando num capítulo "de um livro sobre Marcos" (p. 81).
Posteriormente, no mesmo ano, Smith já escreve "meu livro sobre Marcos" (p. 85).
A edição de novembro/dezembro de
2009 da Biblical Archaeology Review (BAR
35:06) traz uma seleção de artigos dedicados ao Evangelho Secreto de Marcos,
incluindo artigos por Charles W. Hedrick , Hershel Shanks e Helmut Koester. De forma
geral, eles apóiam a autenticidade do manuscrito de Mar Saba.
Teorias de Smith sobre Jesus histórico
Em obra posterior, Morton Smith
passou a defender cada vez mais uma representação de Jesus como praticante de
alguma forma de rituais mágicos e do hipnotismo,
o que, segundo ele, explicaria suas curas e
exorcismos nos evangelhos. Ele parece ter desenvolvido esta
visão peculiar de Jesus a partir de 1967, explorando de forma cuidadosa
quaisquer traços de uma suposta "tradição libertina" no cristianismo primitivo e no Novo
Testamento. Contudo, há pouco no manuscrito de Mar Saba que dê
suporte a qualquer uma de suas teorias, o que é evidente pelo fato de que
apenas 12 linhas são dedicadas ao manuscrito em seu livro Jesus the Magician ("Jesus,
o Mago").
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