quinta-feira, 10 de maio de 2012

CARTA A MINHA AMIGA LILIAN (2).


Estou usando um computador em uma faculdade que não permite baixar e nem visualizar os documentos que você anexou.
Isso também é uma forma de cercear, impor limites, sensurar. Os fundamentalistas não estão somente nas igrejas, eles estão necessariamente nas igrejas por que estão na sociedade. E as igrejas fazem parte da sociedade, são instrumentos de apoio ao Estado. O que é o Estado? O Estado é a Igreja, os poderes constituídos e uma das representações mais perversas destes poderes é a família tradicional. Ou seja, a idéia de família imposta pelos padrões tradicionais. Sabemos que a família que realmente sustenta a sociedade nem sempre tem os moldes daquela idéia tradicional. Muitas famílias são compostas somente pela mãe, ou só pelo pai, ou por dois pais ou duas mães. Dias atrás ouví um famoso pastor orando numa rádio pela família e então ele diz: "Senhor, abençoa a família. Papai, mamãe e filhinhos". Isso é muito mesquinho pois para combater a família homossexual o pastor excluí todas as outras formas de família inclusive de muitos membros da igreja dele que não têm pai ou mãe morando em casa. às vezes é uma avó viúva que cuida dos netos com sua pobre aposentadoria. 
E então o instrumento do Estado é a família tradicional heterossexual (reprodutiva, que produz trabalho e perpetuação) garantindo a renovação das linhas de produção. Discutir sexualidade sem questionar os nossos modelos econômicos é também ingenuidade. Paulo Freire afirma que não existe educação isenta de ideologia e também todos os debates são ideológicos. 
A escola neste modelo de sociedade do capital é produtora de mão de obra para o trabalho, para a perpetuação destes modelos. 
Por quê que os gays que se casam e que constituem família (filhos por processos reprodutivos adaptados ou não) são de certa forma tolerados e até admirados por setores menos conservadores? 
Porque darão continuidade ao sistema. De uma forma diversa estão também se inserindo no sistema. 
Minha proposta é romper com o sistema, implodir o sistema mas não de dentro, desde fora. Como disse Antonio Negri em sua obra Império: Os novos revolucionários não querem conquistar o poder. Não queremos ser o rei, não desejamos os espaços de dominação e sem as maquinas de destruição. Negar o poder é fazer de tudo para que o sistema imploda a sí mesmo. Ou seja, quando você entra num banco e abre uma conta, você está alimentando a maquina de destruição. Negar espaços de poder é se antepor a estes enfrentamentos.   
Discutir os números do IBGE, por exemplo, (é claro que vamos lá discutí-los, não vamos fugir ao diálogo) mas temos de ter a clareza de que são dados oficiais, manipuláveis. Quem garante que a população que respondeu aos questionários não se antepôs às perguntas. Quando alguém vai à minha casa representando o Estado eu tenho um posicionamento diferente. 
Jean Baudrillard, mais um destes revolucionários da anti-guerra, afirma que as populações colocadas à margem adquirem um comportamento de anti-maquina de destruição. Elas se comportam de forma a destruírem as máquinas do Estado de forma pacífica e passiva, aliás a passividade, o "não gostar de política" também é uma forma de negação. 
Quando o sistema de saúde de Paris informou que médicos estariam atendendo nos hospitais públicos em determinada data, toda a população de bairros da periferia (populações de migrantes marroquinos, por exemplo que são constantemente hostilizadas) adquiriu comportamentos patológicos (somatizados) o que acabou sobrecarregando o sistema de atendimento e mais uma vez as noticias foram de que o programa público era inoperante. 
Nos nossos postinhos de saúde acontece a mesma coisa. Há um comportamento desafiante nas populações que são deixadas à margem. Os gays quando lutam por direitos estão na verdade afirmando que a máquina do estado não passa de uma maquina de morte.
Uma forma de lutar é abandonar os campos de luta. Não é fazer parte deles. Até porque não passam de instrumentos de morte. 
Foto:John Vachon- Escola rural Infantil (Rural school children-San Augustine County-Texas- 1943). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário