segunda-feira, 7 de maio de 2012

CARTA PARA MINHA AMIGA

Oi amiga, Recebí seu convite para participar do Seminário dos Pobres:
O Grupo Viver de Bem para o Desenvolvimento Humano (  www.viverdebem.blogspot.com.br/ ), realiza encontros mensais para refletir a realidade e um evento anual sempre no dia 11 de setembro de cada ano desde que houveram os ataques à democracia na cidade de Nova York.
Uma forma de pensarmos sobre o maniqueísmo e a barbárie que anda em nossos calcanhares o tempo inteiro tentando nos atrelar às políticas vigentes na Idade Média.
Uma luta diária ( e falo em luta filosófica) o que nem sempre é entendida, compreendida, pois nossa sociedade, a do Capital, não a do Capitalismo pois essa morreu em Berlim com a Queda do Muro (quando cai o Comunismo acaba também o capitalismo e surge este monstro, O leviatã de Hobbes- http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes  ), essa sociedade mesquinha, maniqueísta e cruel com todos os mais fracos, menos favorecidos, os marginalizados, aqueles colocados às bordas limítrofes da renda e da produção, essa forma de construir palacetes (os Alfa Villes, Green Ville, Italian Ville - redomas de realidade virtual onde uma camada da sociedade se isola da realidade cruel e mesquinha a qual ele submete os outros integrantes, aqueles que não se enquadram, não se encaixam nas caixinhas cartesianas ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartesianismo ) que a sistemática do poder estabelece.
Se for possível a construção de um diálogo neste sentido, gostaria muito de participar com você e seus colegas pesquisadores desse debate.
Esse assunto, este tema, muitas vezes é visto com preconceito e discriminação pelos pesquisadores do sistema.
É muito comum ouvir expressões do tipo: Hi!! Lá vem aquele cara mal vestido, descabelado, com a barba por fazer defender o pobres, gays, lésbicas, travestis e ladrões de bancos, gente que gostariamos de "estabelecer legislações mais severas para penalidades mais abrangentes". Chi, lá vem o João com aquelas idéias malucas de que pobre tem que ter direito à escola com ar condicionado, onde já se viu isso! Nossa, o João pensa que criança pobre tem que ter merenda, esse povo só vai pra escola pra comer, mesmo!
dias atrás um pastor me procurou e queria negociar uma igreja pra que eu cuidasse desde que eu pregasse a "verdadeira palavra de Deus" ou seja, que viado vai queimar no fogo do inferno mesmo!
Escutei dias atras em sala de aula (Quando alguém comentou que um professor gay havia sido demitido de uma escola particular por que os alunos se sentiam constrangidos ao descobrirem que antes haviam gostado tanto, elogiado tanto, convidado inclusive para festinhas um professor que depois descobriram que era gay, afinal o cara nunca tinha dado na cara que era) ou seja, a diferença do outro não os incomodava, o que os humilhou é que a descoberta da sexualidade desviante do outro maculou a noção irreal de paraiso que haviam construido em sua escola particular onde só entravam os bons, os melhores, os mais finos e perfumados ( o gay estragou o sonho de perfeição mesquinho deles) então alguem comentou que "gente desse tipo tem que se lascar, mesmo" comentário de uma educadora. Outra educadora disse que tem um aluninho na sua escola "muito esquisito. Aquele menino dá uns gritinhos que me irritam, não sei o que faço com aquele menino, aquela coisa!"
Então, colega é assim: Construimos um mundo melhor ou um mundo dicotomizado ( às vezes reproduzimos isso em nossas ações).
Espero não estar sendo chato, mas se estou lhe escrevendo isso é por que acredito que com o seu potencial intelectual e ativo enquanto pessoa que atua, age, pessoa da Praxis como diria Trótsky ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_desigual_e_combinado ) é possível a construção de uma sociedade mais igualitária, onde poderíamos sonhar com uma educação boa para todos.
Espero ter respondido às suas questões.
É assim: Não vou participar do encontro do dia 26 pois não tenho condições de pagar os R$50,00, acredito que participando do evento no dia 25 poderia contribuir com uma reflexão para uma educação real para crianças do Alpha ville  e crianças do Pedra 90.
Não tenho nada contra os menininhos loirinhos, fofinhos e gordinhos do Halpha Ville, do Green Ville ou do Italian Ville, só acho que os menininhos negros (também bonitinhos) e as meninas, também claro, dos Bairro pobres e que nem sempre têm condições para tomarem banho, comerem as 5 refeições indicadas pela UNESCO, que às vezes vão pra escola com o cabelo com piolhos e as professoras nem querem abraçá-las, afinal de contas ninguém quer ter piolho, na cabeça, não é?
Agora imagina como deve se sentir um menino que percebe que a professora não lhe dá atenção da mesma forma que dá aos outros por que ele tem a vóz diferente, tem um geitinho mais meigo assim diferente de falar. A professora acha que Deus não gosta desse menino por que ele é aquilo que ela acha que é pecado. Como deve se sentir uma criança que vai à escola sem ter feito a primeira refeição do dia?
Culpar essa criança, dizer que ela tem uma ou outra patologia, dizer que ela/ele não vai aprender mesmo, ou que vai aprender "diferente"! Isso não é idológico, colega?
Se você chegou até aqui é por que alguma coisa eu disse que te chamou a atenção.
E digo mais: Você será julgada no futuro pelas açoes de educadora que você está sendo hoje, esses eventos que fazemos, reuniões que as pessoas não gostam de ir, grupos de estudos que as pessoas não gostam de estudar os textos recomendados, palestras que fazemos e que percebemos que as pessoas vão só pra ter o Certificado (quando sai pela UFMT então, nossa!), debates que as pessoas não querem debater (Chi, não gosto de política! (http://pensador.uol.com.br/frase/MjMzMDA5/  O analfabeto político de Brecht ). Não são eventos desperdiçados. São reflexões que pelo menos alguém vai ser conquistado.
dias àtras uma colega disse que intervenho demais nas aulas da Neuroeducação, falo demais de filosofia e política) Cê fala demais, João! Mas como me calar se as pedras clamam! Se eu me calar as paredes daquela sala vão gritar por reflexões.
Muito bem, acho que poderei aprender como me calar ouvindo a Nádia Bossa falar sobre como poderíamos ter uma escola melhor se ela estivesse estruturada com laboratórios e oficinas de estudo e atendimento às necessidades das crianças (as brancas, as negras, as indígenas, os gays, os pobres e os menos pobres) que bom seria se nossa educação fosse a mesma para todos e como seria interessante se pudéssemos convidar os garotos/garotas que estudam nos Liceus e Colégios para compartilharem momentos de cultura e lazer com os garotos das escolas dos bairros. Que tal um  campeonato de futebol ou um evento cultural com muita música que estimulasse a participação das diferentes formas de ver e ser?
Um abraço
do seu amigo Sonhador (Foto: Garoto com pistola. By: Robert Capa.)

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